Esquartejador confesso afirma 'ao povo' que não é monstro

“Quero dizer ao povo que não sou monstro.”

Foi o que disse em sua primeira entrevista a um jornal o goiano Mohammed D’Ali dos Santos (foto) , 20, que confessou ter matado e esquartejado a inglesa Cara Marie Burke, 17.

Da parte da maioria das pessoas, não vai ser fácil deixar de vê-lo como autor de uma monstruosidade,  para a qual não há justificativa alguma. Monstro, aliás, ele foi chamado pela mãe de Cara, Anne Marie, em recente entrevista ao Fantástico.

Agora, Mohammed não tem o apoio sequer de seus amigos, que se afastaram todos.  “Eles [os amigos] me deram as costas e desapareceram. A minha namorada e a família dela me ajudam muito. Nunca me deixaram. Sinto saudades dos amigos...”

Santos, que está no Núcleo de Custódia, em Aparecida de Goiana, desde 8 de agosto (ele ficou presos alguns dias na carceragem de delegacia), contou que começou a se drogar aos 15 anos, com maconha. “Logo passei a querer coisa mais forte. Houve dias em que colocava botijão de gás para fora de casa só para cheirar quando não tinha nada para usar.”

Disse que gastava cerca de R$ 600 por dia com cocaína e até R$ 300 com crack. Na entrevista, não deixou claro de vinha tanto dinheiro, porque a sua mãe, que lhe sustentava, trabalhava como empregada doméstica em Londres. A polícia chegou a divulgar a versão de que ele era traficante.

Ao Diário da Manhã, de Goiânia, disse estar arrependido de ter matada Cara Marie. “Arrependo muito, pois eu e a Cara éramos como irmãos. Ela morou comigo no apartamento um mês e logo foi morar no Jardim Novo Mundo, na casa de um namorado.”

Ele falou que sente muito a falta de seu pai, que morreu quando tinha dois anos. Acha que se o seu pai, o soldado militar José dos Santos, fosse vivo, o seu destino agora seria outro. “Lembro que, quando ele chegava em casa, me entregava o seu relógio. E eu adorava colocar o relógio no meu braço.”

Mohammed não contou na entrevista que o seu pai foi assassinado e degolado – os assassinos nunca foram descobertos. No tribunal, os seus advogados deverão recorrer a esse fato para argumentar que ele é uma pessoa traumatizada por causa da morte violenta do seu pai.

Além de sua mãe, do irmão Bruce Lee e dos advogados, uma senhora o visita com freqüência. Foi ela quem lhe deu um crucifixo que carrega no pescoço. “Sou católico, mas não-praticamente”, disse. De um preso, ganhou uma Bíblia.

Mohammed falou que não tem sido fácil ficar sem as drogas. Ele tem comido mais do que era o seu normal: duas marmitex no almoço e duas no jantar, além do café da manhã. Engordou dois quilos.

Ele se mostrou pronto para pagar o que cometeu. Sabe que vai ficar muito tempo na cadeia, “uns sete anos”.

Se depender do Ministério Público, Mohammed dos Santos pegará a pena máxima: 30 anos de prisão.

O julgamento deverá ocorrer no começo de 2009.

> Caso Cara Marie Burke.