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'Fui espancada pelo meu pai dos 10 aos 14 anos'

de uma leitora a propósito de
Pai espanca filha para que seguisse ‘as regras da igreja’, e ela morre

Me identifico com a situação. Fui espancada pelo meu pai dos 10 aos 14 anos. Com 14 para 15 anos fui no Juizado de Menores, mas o caso foi arquivado porque eu não tinha testemunhas (!!), e "a familia iria me proteger nos termos da legislação".

Não consegui encontrar um tutor (tentei buscar sozinha porque a Vara da Infância disse que isso demoraria). Fiquei desesperada, queria fugir mas não sabia para onde.

A carta do Juizado chegou em casa. Meu pai me ameaçou. Eu não sabia o que fazer, porque ninguém na família me apoiava (são católicos fanáticos e acreditam que os pais, avós e tios têm o direito de fazer o que quiserem).

Meu pai chegou a me tirar do chuveiro diversas vezes e me bater nua porque dizia que eu estava perdendo tempo com o banho.

Depois que o denunciei no Juizado, como sabia que se encostasse em mim seria preso, começou com o terror psicológico, que judicialmente é mais difícil de provar.

Tentou me tirar da escola porque um dia passei mal (tinha a pressão baixa por estar na época com transtorno alimentara). Ele disse que "eu não tinha o direito de ficar doente".

Numa sociedade malditamente católica, a vida é caótica pra quem discorda de qualquer regra dela.

Eu estava com 20 anos quando ele tentou me beijar na véspera da prova de um grande vestibular (obviamente não passei).  Depois desse dia passei a ter um nojo compulsivo por ele e todos de sua família.

É lógico que minha vida afetiva sempre foi um desastre. Minha vida profissional idem, mesmo eu sabendo que tenho capacidade de me desenvolver.

Eu saía de casa decidida a estudar e trabalhar. Meu pai sempre me chamava de imbecil quando eu voltava, mesmo quando entrei numa multinacional como bilíngue tendo estudado em escola pública e ainda nem tinha começado a faculdade. Ele dizia que eu era incompetente, que tinha Q.I. abaixo da média, que ele tinha "capacidade superior".

Hoje tenho 29 anos e tento perdoá-lo, mas infelizmente é muito difícil dar um abraço sincero. E dizer que amo meu pai seria pura hipocrisia.

Entrei em depressão por várias vezes sem poder contar com ninguém.

Minha mãe? Ela pede para eu perdoá-lo. Diz que o ama, apesar dos defeitos. Tenho pena dela. Mas não deixa de ser verdade que ela fechou os olhos para o que estava acontecendo.

Quando eu era adolescente, ela tentou me enforcar com um pano de prato junto com uma das minhas irmãs quando disse que ia denunciar meu pai.

Se eu esqueci? Claro que não. Mas não vou fazer o mesmo que fizeram comigo. E com certeza, se tiver uma criança, vai ser a muitos quilômetros de distancia e todos eles, mesmo que isso signifique sofrimento e solidão.

Sou capaz de fazer qualquer coisa para manter ele longe de mim. Tudo o que eu quero na minha vida é paz e respeito.

> Menina de 13 anos tenta o suicídio por causa de maus-tratos dos pais.
novembro de 2010

Comentários

Anônimo disse…
então é esse o tal g-zuis o "bondoso" que nos julga e condena!!!!!
Helton Azevêdo disse…
Isso não tem nada a ver com D-Us ou G-Zuis, essas coisas não existem. Isso tem a ver com pessoas, as quais, se caso isso tivesse acontecido comigo,eu jamais perdoria.
DougFel disse…
Jamais perdoaria tais atos!
Anônimo disse…
Você é uma guerreira, vencedora e de um QI altíssimo...

Seria mais fácil eu dizer que o tempo vai ajudar. Algumas vezes até ajuda, no entanto em outras vezes, em sua maioria gangrena... O jeito é carinhosamente falando "cair para dentro!"

Infelizmente, e digo por experiência própria, não tem como passar por este caminho sem perdoar, não há atalhos, não há palavras que entram pelos nossos ouvidos e apaguem o nosso passado... mas quando falamos, soltamos a voz, escrevemos, compartilhamos, acabamos ouvindo ouvindo o que dizemos e começamos a ficar livres... as nossas juntas começam a ficar mais soltas, do engatinhar passando pelo andar para no momento certo correr pela vida

A palavra perdoar significa em grego a mesma palavra que soltar...

Quando perdoamos soltamos, soltamos quem nos fez mal, e sobretudo soltamo-nos a nós mesmos... saímos da gaiola, podemos nos transformar da lagarta que rasteja para a borboleta com suas cores que pode voar saltando os obstáculos que nos parecem intransponíveis...

Perdoar está longe de esquecer, PERDOAR NÃO É ESQUECER, perdoar por mais duro que seja é optar ficar no prejuízo... ou uma explicação que gosto muito, perdoar é ficar livre de um sentimento...

Não tem como esquecermos o que nos aconteceu... os barulhos, os cheiros, os sons, os olhares, a penumbra, o medo, as marcas na alma e no corpo... No entanto, quando conseguimos aos pouquinhos perdoar, aquele sentimento que nos apertava, tirava o oxigênio do nosso cérebro, azedava o nosso estômago, arrefecia a nossa esperança quanto ao futuro... vai se dissolvendo... o sentimento já não nos impede mais...

Você é muito corajosa em colocar aqui, compartilhando conosco essas dores que ainda a incomodam... Você vai ter filhos maravilhosos, porque você sabe dar valor o que tem valor e isto porque você para ser maravilhosa.

Sou um privilegiado e por isso não poderia deixar de assinar este post.

Meu nome é Adelino Fernandes
Anônimo disse…
Fiquei comovida com esse post.
Acho que você não precisa perdoar, não se cobre nem se martirize por isso... se um dia acontecer, será com o tempo, e virá naturalmente.

Vá viver sua vida, de preferência o mais longe possível do seu pai.
Você não precisa dele, nem pra viver, e muito menos pra ser feliz.

Acho que a melhor "vingança" é aquela quando nos separamos de quem nos faz mal, e vivemos felizes sem eles. Assim, mostramos para ele e para o mundo o quanto somos melhores do que aquilo que passamos, apesar do mal que nos fizeram.

Infelizmente, seu pai provavelmente é um psicopata, porque é a única forma de justificar esse tipo de coisa.
Anônimo disse…
teu pai e um psicopata menina.
viva longe dele então..
nunca o perdoe, seja bem-sucedida na vida, ganhe bastante dinheiro e tenha um salario alto, vai ver que ele vai ficar desesperado procurando vc.
vc nao deve perdoa-lo, e em hipotese alguma deixe ele ver os netos, ele com certeza vai fazer o mesmo q fez com vc.
incrível como pessoas assim dizem ser catolicos e fazem essas atrocidades.
esse vagabundo (desculpa falar assim do seu pai)
devia estar atras das grades ou embaixo da terra.
Thales Lenin disse…
Muitas das dificuldades de relacionamento femininas vem de experiências catastróficas com outros homens: Sejam eles pais ausentes, namorados covardes, opressão religiosa, violência doméstica, etc.

Impossível dizer que não há efeitos da forma com que a cultura ocidental trata a mulher. É triste ver que muitas vezes a mulher tem que "aceitar" o homem na desgraça que muitas vezes ele é.

Todos temos problemas, e todos esses problemas são pessoais. Mas não podemos ficar calados diante de tais coisas, temos que integrar uma sociedade vigilante sim. Com olhos dentro das famílias, pois ninguém "pode tudo" com o outro.

Conheço mães que falam que podem matar as filhas, pois "fui eu quem fiz". Quem cresce sem ser agente da própria vida se torna apenas um respondente de tais violências.

A resposta que vemos pode ser mais violência, ou fuga.

Tudo o que eu queria era que soubéssemos lidar melhor com nossos sentimentos.
Anônimo disse…
É como a minha família, na qual não faltou nenhum tipo de violência: física, psicológica e sexual. Nem meu pai nem minha mãe prestam. Enquanto eu perdoei, sem eles pedirem perdão e nem se arrependerem, continuei sofrendo. Lendo livros sobre a traumaterapia sei que o perdão não é tudo, já que muitas vezes nos mantém naquele relacionamento traumatizante. Daí depois de descobrir o problema sexual em tenra infância e como os 2 estavam envolvidos, ofereci meu perdão, só que eles evitaram o tema e eu cortei o contato. Com isso poupo muitos aborrecimentos e maltratos.
Dica: evite de por filho no mundo, já que o pesadelo continua com o casamento, pois geralmente reproduzimos na vida conjugal o mesmo relacionamento que tivemos com os pais. Casei com um monstro o qual tentou matar minha filha 2 vezes, hoje ela tem Borderline, se corta, bebe, pensa em suicídio e me odeia; isso sendo menor de idade. Eu vivo a base de antidepressivos.
Eu espero que vc não se deixe levar por sentimento de culpa e chantagens emocionais de seus pais. Quebre o contato traumatizante e saia do papel do bode expiatório, da portadora de sintoma dessa família doente que precisa de vc como válvula de escape de seus conflitos. Enquanto vc carregar bonitinho os conflitos deles e adoecer por isso será uma "boa filha" pra eles.
Anônimo disse…
Como disse o Pondé numa palestra sobre o ódio, "as vezes o sentimento mais ***justo*** que você pode ter por outra pessoa é o ódio".

Realmente não tem como amar uma pessoa que fez tudo para ferrar com sua vida, ainda mais sendo o seu próprio pai(!).

Perdoar é até questionável, afinal esse perdão vai fazer bem para quem? para a pessoa que sofreu e se vê forçada a perdoar por pressão da sociedade que impõe que nós devemos perdoar porque é bom etc etc e sofre duas vezes, pelo abuso e pela pressão do perdão, porque no fundo não consegue realmente perdoar e sabe que o que ela passou foi totalmente desmerecido ou para a pessoa que fez tudo de mal e ainda "se safa" porque "se arrependeu", "sente muito" e "não sabia o que estava fazendo na época"?

É melhor mesmo tomar distância dessas pessoas e encontrar outras que vão amar você e que você também vai amar de verdade e não por protocolo ou obrigação.

Isaac
Anônimo disse…
que disperdicio de personalidade pricisamos mais de pessoas ao nosso lado e não no dele, que se sintir em paz... mate os dois e sentirar uma tremenda paz no coração e na alma
Mostarda disse…
Trágico..Lamentável..graças a Deus que a maioria das famílias (realmente) católicas não é assim !!!
Viviane disse…
Que triste! Tive uma história bem semelhante, só não incluiu acedio. Sei bem dessa dificuldade de perdoar, hj sou uma pessoa totalmente agressiva e frustrada. Acontece que a falta de perdão só prejudica a nós mesmos, enquanto o outro continua vivendo numa boa

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'Quando saí [do  convento], era como eu  tivesse renascido' Elizabeth Murad (foto), de Fort Pierce (EUA), lembra bem do dia em que saiu do convento há 41 anos. Sua sensação foi de alívio. Ela tocou as folhas de cada árvore pela qual passou. Ouviu os pássaros enquanto seus olhos azuis percorriam o céu, as flores e grama. Naquele dia, tudo lhe parecia mais belo. “Quando saí, era como se eu estivesse renascido”, contou. "Eu estava usando de novo os meus sentidos, querendo tocar em tudo e sentir o cheiro de tudo. Senti o vento soprando em meu cabelo pela primeira vez depois de um longo tempo." Ela ficou 13 anos em um convento franciscano de Nova Jersey. Hoje, aos 73 anos, Elizabeth é militante ateísta. É filiada a uma fundação que denuncia as violações da separação entre o Estado e Igreja. Ela tem lutado contra a intenção de organizações religiosas de serem beneficiadas com dinheiro público. Também participa do grupo Treasure Coast , de humanistas seculares.