por Daniel Sottomaior, presidente da Atea (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos), para a Folha
No Brasil atual, é inimaginável um senador da República dizer que "tem pena" de judeus. Ou um apresentador de TV afirmar repetidas vezes que certo criminoso "só pode ser negro". Ou um candidato à Presidência afirmar que o judaísmo tem criado problemas no Brasil e no mundo e que é bom que o próximo mandatário supremo não seja judeu.
Ou um vilão de novela ser gay e atribuir sua maldade à própria homossexualidade.
No entanto, esse é o país em que vivem cerca de 4 milhões de ateus -número aproximado, já que o IBGE nos nega essa informação, a despeito do art. 5º da Constituição: "Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica".
Todos esses casos são reais, referindo-se na verdade a ateus, mas ninguém foi destituído, despedido ou processado pelo Ministério Público. Por que será?
A Folha dá enorme passo na direção certa ao abrir espaço a esta resposta ao artigo "Dilma e a fé Cristã", de Frei Betto ("Tendências/Debates", 10/10). Nele, o dominicano afirmou: "Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar, com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau de arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte".
Não há como salvar essa lógica.
Trata-se de expressão clara de preconceito. Se a frase é inaceitável referindo-se a judaísmo ou negritude, então o mesmo deve valer para o ateísmo. E o contexto não poderia ser pior: o mote do artigo é salvar a candidata de "acusações" de ateísmo, ao invés de mostrar que ateísmo não é matéria de acusação em sociedade não discriminadora.
Identificar grupos de pessoas a deficiência física, estética, mental, moral ou até teológica sempre foi a racionalização do discriminador.
A maldade dos ateus é mais uma dessas lendas preconceituosas, reafirmada ad nauseam pela sacrossanta Bíblia Sagrada e por quase todos os seus cristianíssimos seguidores, apesar de desautorizada por todos os dados disponíveis.
A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) vem congregando descrentes em todos os quadrantes do país, esclarecendo a sociedade, defendendo os ateus da posição inferior que nos querem impingir, lutando por um Estado verdadeiramente laico e levando aos tribunais as pessoas e instituições que insistem no contrário.
Isso, sim, é ateísmo militante.
Ironicamente, bulas papais como Ad extirpanda e Dum diversas deixam claro que o cristianismo militante inclui tortura e escravização de descrentes. Não consta que tenham sido revogadas.
O grande manual de tortura de todos os tempos, Malleus Maleficarum, foi escrito também por dominicanos, e serviu de guia, durante séculos, para a violência católica contra infiéis.
No caso a que Frei Betto se refere, os papéis também estão invertidos: combater o ateísmo era uma das justificativas para a ditadura, sintomaticamente inaugurada com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade.
É o teísmo militante, naquela época como hoje, alimentando-se do preconceito escancarado contra ateus, sequestrando e engravidando a política, em nome dos bons tempos, para nela conceber seus frutos. Vejam só no que deu.
Ateus sofrem preconceito igual ao gay dos anos 50, diz filósofo.
maio de 2010
No Brasil atual, é inimaginável um senador da República dizer que "tem pena" de judeus. Ou um apresentador de TV afirmar repetidas vezes que certo criminoso "só pode ser negro". Ou um candidato à Presidência afirmar que o judaísmo tem criado problemas no Brasil e no mundo e que é bom que o próximo mandatário supremo não seja judeu.
Ou um vilão de novela ser gay e atribuir sua maldade à própria homossexualidade.
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Manual de tortura escrito por dominicanos |
Todos esses casos são reais, referindo-se na verdade a ateus, mas ninguém foi destituído, despedido ou processado pelo Ministério Público. Por que será?
A Folha dá enorme passo na direção certa ao abrir espaço a esta resposta ao artigo "Dilma e a fé Cristã", de Frei Betto ("Tendências/Debates", 10/10). Nele, o dominicano afirmou: "Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar, com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau de arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte".
Não há como salvar essa lógica.
Trata-se de expressão clara de preconceito. Se a frase é inaceitável referindo-se a judaísmo ou negritude, então o mesmo deve valer para o ateísmo. E o contexto não poderia ser pior: o mote do artigo é salvar a candidata de "acusações" de ateísmo, ao invés de mostrar que ateísmo não é matéria de acusação em sociedade não discriminadora.
Identificar grupos de pessoas a deficiência física, estética, mental, moral ou até teológica sempre foi a racionalização do discriminador.
A maldade dos ateus é mais uma dessas lendas preconceituosas, reafirmada ad nauseam pela sacrossanta Bíblia Sagrada e por quase todos os seus cristianíssimos seguidores, apesar de desautorizada por todos os dados disponíveis.
A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) vem congregando descrentes em todos os quadrantes do país, esclarecendo a sociedade, defendendo os ateus da posição inferior que nos querem impingir, lutando por um Estado verdadeiramente laico e levando aos tribunais as pessoas e instituições que insistem no contrário.
Isso, sim, é ateísmo militante.
Ironicamente, bulas papais como Ad extirpanda e Dum diversas deixam claro que o cristianismo militante inclui tortura e escravização de descrentes. Não consta que tenham sido revogadas.
O grande manual de tortura de todos os tempos, Malleus Maleficarum, foi escrito também por dominicanos, e serviu de guia, durante séculos, para a violência católica contra infiéis.
No caso a que Frei Betto se refere, os papéis também estão invertidos: combater o ateísmo era uma das justificativas para a ditadura, sintomaticamente inaugurada com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade.
É o teísmo militante, naquela época como hoje, alimentando-se do preconceito escancarado contra ateus, sequestrando e engravidando a política, em nome dos bons tempos, para nela conceber seus frutos. Vejam só no que deu.
Ateus sofrem preconceito igual ao gay dos anos 50, diz filósofo.
maio de 2010
Comentários
eu estou cansado de ter q aturar esse preconceito
um abraço, de um ateu militante.
Vejam só no que deu a liberdade dada a esses ateus que não têm argumentos para defender as suas convicções e por isso se utilizam de críticas aos religiosos...
Só nos falta ver um ateu em situação de apuros gritar: PELO AMOR DE DEUS!
Não entendo a tal da TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO do Boff. Ela existe? Deus é um déspota não esclarecido. Cruel e violento. Felizmente ele não existe mas, seus idealizadores estão por aí fazendo prevalecer a sua lei.
Religião é dogma e não adimite dúvidas. Ou submete-se às suas regras ou sai dela. Igrejas não são instituições democráticas. Na verdade são uma enciclopédia da histeria.
você julga as palavras da lukretia geniais?
Deve defender torturas e censura também?!
Parabéns!
Davi Duarte
Na Bíblia, você vê Deus mandando matar mulheres, crianças, animais, apedrejar mulheres por terem feito sexo antes do casamento, matar alguém que trabalhou no sábado... portanto, se esse tipo de coisa pode estar de acordo com a vontade de Deus dentro de certo contexto, qual atrocidade pode ser considerada absolutamente imoral? Qualquer crueldade é aceitável, só depende do contexto!
O Estado é laico, significa sem religião e a maioria brasileira tem religiões diversas, com um grande número de panteístas, budistas, judeus, agnósticos e ateus e simpatizantes. Todos merecem respeito, não só um tipo religioso.
E você está deliberadamente mentindo, a ditadura era cristã e perseguia ateu. Pastor evangélico é cristão. Não é questão de bom mocismo. É questão de realidade.
Ok, se a maioria vence na sua vontade, só posso julgar que bebida e cigarro são as maiores virtudes humanas, ou não?
E mais, o sistema apregoa acima de tudo a liberdade individual e a isonomia, que significa que todos são iguais, respeitadas suas diferenças.
Fica a frase para reflexão "Não é porque muitas pessoas acreditam numa coisa estúpida que essa coisa deixará de ser estúpida".
Imagine que vc encontre um membro da Ku Klux Klan que diga "ah, os torturadores da ditadura eram negros militantes, que destruíamo o templo da brancura que é o corpo humano".
Vc diria que esse texto é um exemplo de preconceito aos negros?
http://www.paulopes.com.br/2012/02/por-que-religiosos-estao-vendo-o.html#.UIP2sLRQC0w
Ateu não "passa por bonzinho", apenas EXIGIMOS respeito!
O Estado é laico sim, não gostou? MUDA A CONSTITUIÇÃO!
Apenas queremos fazer valer a lei.
Esse papel ridículo de vítimas, deixamos p/ os religiosos, q têm sua história manchada de sangue, seguem uma cartilha recheada de mortes e têm a hipocrisia de querer se acharem donos da verdade.
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