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Entidade lança campanha de prevenção ao suicídio

Gui
No perfil do Orkut de Giuliana (foto) ainda se pode ler: “Eu estou terrível apenas em me ver agonizando... Mas contando os dias para ‘ir’’.

Ontem, 3, fez um ano que Giuliana, aos 15 anos, se matou com um tiro na cabeça.

A morte dela foi relatada e está sendo discutida na PGM (Profiles de Gente Morta), comunidade do site de relacionamento com mais de 66 mil participantes.

Chama a atenção, na PGM, a quantidade de registros de jovens que se suicidam.

No mundo, a cada 40 segundos, uma pessoa se mata, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde). Estima-se que em 2020 vá ocorrer um suicídio a cada 20 segundos, o que significa o  aumento de 74%.

No Brasil, pelas estatísticas oficiais, 24 pessoas por dia cometem suicídio. Como esse tipo de morte nem sempre é notificado, estima-se que o número de suicídios seja pelo menos 20% maior, informou  Julliane Silveira, da Folha.

Luiz Alberto Hetem, vice-presidente da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), disse que não se tem a real dimensão do problema. “Muitas tentativas de suicídio entram como acidentes domésticos, de trânsito.”

Mesmo assim tem sido possível constatar que a taxa de suicídio tem aumentado no Brasil sobretudo entre os jovens. De 1980 a 2000, multiplicou-se por dez, o que explica os muitos registros na PGM.

Estudo feito pela Unicamp com 515 pessoas de Campinas (SP) mostra que 17% delas já tinham pensado seriamente em se matar e que 3% chegaram a tentar.

Apesar disso, o problema é insuficientemente discutido, inclusive pela imprensa, que o considera um tabu.
Agora, a ABP lançou uma campanha para tentar conter o avanço do suicídio. A campanha de prevenção é composta por um vídeo de 30 segundos, informações ao público em geral e um manual com dados para a divulgação pela imprensa.

O psiquiatra Neury Botega, da Unicamp, disse que nenhum país tem registro das tentativas de suicídio. Mas, pela experiência dos profissionais que lidam com o problema, a estimativa é de que elas sejam de até 20 vezes mais elevada do que as mortes.

Em muitos casos, quem pretende se matar dá sinais de sua intenção.

“Há casos de pacientes que fizeram cortes superficiais ou tomaram pouco remédio, e alguns banalizam, achando que a pessoa não vai se matar”, afirmou  Luiz Alberto Hetem.

Tais sinais têm de ser vistos pelos familiares, amigos e médicos como pedidos de ajuda.

No caso de Giuliana, além da mensagem em seu perfil no Orkut, ela mudou de comportamento após a morte de sua vó. Passou a fumar bastante e sofria de bulimia e anorexia.

Ela teria tentado a morte pelo menos duas ocasiões: uma vez, tomou remédios e outra, cortou os pulsos.
Giuliana era lésbica, o que a sua família não aceitava, de acordo com uma jovem que diz ter sido amiga dela.

Com a divulgação de informações, a ABP pretende salvar milhares de pessoas que neste momento, como Giuliana há um ano, estão tomadas pelo desespero e só vê como solução a morte.

> Karrie toma veneno e pede para não ser salva. E os médicos aceitam.
outubro de 2009

> Casos de suicídio.    > Campanhas de interesse público.

O CVV É UM SERVIÇO DE PREVENÇÃO AO SUICÍDIO.
TEL: 141. Atende também por e-mail e on-line.

Comentários

Paulo Lopes disse…
por Flávia Mantovani, da Folha:

Quem quer se matar dá sinais, diz jornalista

Depois que seu pai se matou com um tiro, em 2005, a jornalista Paula Fontenelle, 42, escreveu o livro "Suicídio: o Futuro Interrompido" (Geração Editorial), finalista do prêmio Jabuti 2009. Leia trechos de sua entrevista.

O que leva uma pessoa a cometer um ato tão drástico?

PAULA FONTENELLE - Mais de 90% dos casos de suicídio são associados a um transtorno mental não tratado adequadamente, como depressão ou bipolaridade. O uso de drogas também é comum.

Muitas vezes a pessoa tem uma melhora no humor antes de se matar. Por quê?

FONTENELLE - O deprimido não tem energia nem para se matar. Depois que ele começa a tomar remédios, recobra a energia para isso. O outro motivo é que, quando alguém decide se suicidar, fica aliviado. Muitas vezes ele reencontra antigos amigos, quer se despedir. Outros sinais são desfazer-se de coisas materiais ou pagar contas para não deixar dívidas.

A pessoa "avisa" que vai se matar?

FONTENELLE - Ela pode até não dizer "vou me matar", mas diz coisas como "a vida não tem mais sentido", "não consigo entender por que estar vivo". São sinais.

O que fazer ao perceber que uma pessoa quer se suicidar?

FONTENELLE - Perguntar diretamente se ela está pensando em se matar e levá-la imediatamente a um psiquiatra, que é a única pessoa que poderá ajudar.

Quem se mata mais, o homem ou a mulher?

FONTENELLE - O homem comete três vezes mais suicídio, mas mulheres tentam de três a quatro vezes mais. A diferença é que elas tomam mais remédios, menos letais, e eles dão um tiro na cabeça e raramente escapam.

O luto vivido pela família de quem se mata é diferente?

FONTENELLE - Sim. É um luto silencioso, o que dói. Quando alguém morre de infarto, todo mundo fala sobre como ele morreu. No caso do suicídio, as pessoas mudam de assunto, é um tabu.

É comum os familiares sentirem culpa?

FONTENELLE - É quase impossível não sentir. E as pessoas também os culpam, pensam: "Como ele não viu?"

A mídia é cautelosa em relação ao tema porque é dito que o cobrir pode incentivar outras pessoas a se matarem. Ele deve ser abordado?

FONTENELLE - Sim, desde que com responsabilidade. O que dissemina o suicídio é a cobertura personalista, romantizada, em que só se entrevistam os parentes. Devem ser ouvidos analistas que falem de prevenção e nunca se deve entrar em detalhes sobre os métodos, por exemplo. Mas, acima de tudo, a mídia não deve se calar.

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