Até hoje, sábado de Carnaval, o megaempresário, o médico endocrinologista e o filho de um comerciante de Catanduva (SP) suspeitos de pertencerem a uma rede de pedofilia não foram presos preventivamente, de modo a impedi-los de ameaçar as vítimas, seus parentes e testemunhas. A polícia civil nem sequer divulgou o nome deles, embora todos na cidade saibam.
Mas a polícia já prendeu outro suspeito, o Zé da Pipa (foto), que é o apelido do borracheiro José Barra Nova Melo, 49. O Zé foi enviado para um presídio onde, como se sabe, quem abusa de criança não é bem-vindo. Ele ainda não tem advogado, mas, claro, o empresário, o médico e o filho do comerciante, sim. O advogado do médico até tem dado entrevista à imprensa.
Catanduva tem 115 mil habitantes e fica a 384 km da capital, São Paulo. É uma cidade desenvolvida, mas com bolsões de pobreza.
A rede de pedofilia que o Ministério Público teria descoberto na cidade surpreende pela tentativa de policiais de acobertar suspeitos ricos e da classe média alta e pela quantidade de crianças envolvidas, perto de 50. “A polícia foi omissa”, disse a juíza Sueli Juarez Alonso, da Vara da Infância e da Juventude, conforme jornais da região.
Até agora, 23 meninos e meninas de dois bairros pobres, Jardim Alpino e Cidade Jardim, confirmaram que foram violentados. Eles têm idade que vai de 5 a 10 anos. Um menino de 7 anos disse que foi obrigado a cheirar cocaína antes de ser submetido a sessões de abuso. O mesmo teria ocorrido com outras crianças.
Uma família cujas crianças (duas meninas, uma de 6 e outra de 8 anos, e um menino de 10) foram abusadas teve de se mudar porque estava sendo ameaçada para não contar nada às autoridades. “Eles [os pedófilos] são importantes na cidade e se acham impunes”, disse o chefe da família.
Pelos depoimentos das crianças, o médico é um dos participantes mais ativos da rede de pedofilia: várias delas afirmaram que foram levadas para uma ‘mansão com piscina’ no Jardim do Bosque. A ‘mansão’ seria a casa do endocrinologista. Ali, além de violentadas, as crianças eram fotografadas.
O Ministério Público recebeu as primeiras denúncias no dia 15 de janeiro, mas só um mês depois é que a polícia civil abriu inquérito. Além disso,inicialmente os nomes dos figurões da cidade não constavam no inquérito. Só o nome do Zé da Pipa, que logo foi preso, e o de outros ‘Zés’.
Somente ontem, 20 de fevereiro, ou seja, quase 40 dias depois das primeiras denúncias, é que a polícia resolveu dar um pulo na casa do médico para confiscar o seu computador. Mas lá os policiais só encontraram o monitor e foram informados de que o computador tenha sido levado para o ‘conserto’.
A Corregedoria da Polícia Civil apura se há policiais que receberam dinheiro de suspeitos; e as crianças que sofreram abuso vão receber tratamento psicológico.
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