Pai desespera-se com a morte do filho metralhado por PMs

"QUE POLÍCIA É ESTA?"

O desabafo do taxista Paulo Roberto Amaral, pai do menino morto pela rajada de uma metralhada da PM do Rio, é de uma pungência inédita, nunca vista, mesmo neste país em que as fortes emoções se vulgarizaram, se tornaram baratas, de tanta que é a violência.

É mais que um desabafo. É um choro sem lágrimas de uma vítima indefesa da brutalidade patrocinada pela incompetência do Estado. É o lamento de uma pessoa castigada com crueldade por quem deveria proteger a sua família, por quem é sustentado com o pagamento de seus impostos pagos com dinheiro honesto. É o grito de desespero que não é só dele, mas de todo nós.

Para quem ainda não sabe e também para que fique registrado neste blog, aqui vai um resumo do drama de Amaral e de sua família: no domingo (6), às 19h40min, dois PMs acharam que o carro conduzido pela advogada Alessandra Soares, mulher do taxista, fosse de bandidos em fuga e foi metralhado. Dentro do carro, estavam os dois filhos de casal, um bebê de 9 meses e outro, João Roberto (foto), de 3 anos. João teve morte cerebral nesta  segunda: ele foi alvejado por três balas. Uma pegou o seu glúteo esquerdo, outra raspou a orelha esquerda e terceira se alojou na parte frontal do seu cérebro.

Um homem viu os policiais atirarem – foram mais de 30 balas -- e seu testemunho é de que eles agiram como estivessem executando supostos bandidos, sem se darem conta de que ao volante estava uma mulher desesperada, que jogou uma bolsa de criança para fora, de modo a mostrar que ali estavam seus filhos. Por pouco a Alessandra e o bebê também não foram assassinados. Ela ficou ferida por estilhaços.

A testemunha desmente a versão dos dois PMs de que o carro da Alessandra estava em fogo cruzado, em meio a um tiroteio, e que foi atingido pelas balas dos bandidos. O Fiat Stilo preto (que teria acabado de ser roubado) dos bandidos já estaria longe, ele passou em alta velocidade pelo Palio Weekend grafite da advogada.

“Eles (os policiais) primeiro atiraram e só depois é que gritaram ‘sai’”, afirmou a testemunha.

Depois de prestarem depoimento à polícia civil, os PMs foram presos administrativamente por 72 horas. 

Na tarde desta segunda, o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, convocou a imprensa para dizer o óbvio, o que todo mundo sabe: que houve uma “tragédia”, que “faltou preparo” aos policiais, que faltou "raciocínio aos PMs", que foi uma “atitude desastrosa”.

A entrevista de Beltrame teve o tom de que a culpa é  apenas dos dois policiais,  como se ele estivesse  isento de responsabilidade. Ele e as demais autoridades que estão fracassando na guerra contra crime; e a população não sabe a quem deve temer mais, se os bandidos ou se os policiais, com o agravante de que nem sempre é possível diferenciar uns dos outros.

FRASE. “Que dor! O sofrimento desse homem é sem fim.” (do leitor Fernando, 23, via Youtube)

 

> Vídeo desmente a versão dos PMs de que carro estava no meio de tiroteio.