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Blogosfera policial cresce e obtém repercussão

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O tenente Alexandre de Sousa escreveu no seu blog, o Diário de Um PM, que, se estivesse no lugar do policial que, em revide, atirou em um assaltante em fuga e atingiu (e matou) o dono do carro, também teria feito o disparo. Porque ele não tinha como saber que o bandido tinha seqüestrado o dono carro. Na sexta, 25, o post do Sousa virou notícia no Estadão. Souza teria sido advertido por seus superiores por causado do que escreveu.

O major Wanderby foi repreendido três vezes pelo que escreveu em seu blog. Uma vez por criticar o péssimo estado de uma cabina de trabalho e duas por ter sido impedido de participar de manifesto por melhoria no salário.

Escorraçado das investigações que apuram os crimes financeiros de Daniel Dantas, o delegado da Polícia Federal Protógones Queiroz abriu um blog.

Esses exemplos, entre outros, mostram que policiais estão recorrendo aos blogs cada vez mais para se manifestarem e o que escrevem começa a repercutir além dos círculos aos quais pertencem.

A blogosfera policial vem tendo rápida expansão em todo o país, com destaque para o Rio. O Diário de Um PM é um dos mais acessados. A sua média diária de visitantes únicos é de 4 mil e já teve pico de 10 mil.

O Diário tem um link que remete ao PMTUBE, onde são postados vídeos do Youtube que tratam da questão policial e da violência.

Um vídeo recentemente postado mostra, sob a música “Pra não dizer que não falei das Flores”, de Geraldo Vandré, o enterro de um PM morto em serviço, com closes para o sofrimento expresso no rosto dos familiares do policial. Diz o título do post do vídeo: “Realidade da PMERJ: policiais estão morrendo por salário de miséria”.

Há ali também vídeos que expõem a truculência da polícia. É o caso de um que foi transmitido em 1995 pelo Jornal Nacional e que mostra um PM do Rio matando um suspeito atrás de uma Kombi. O cinegrafista não consegue as imagens do policial dando o tiro no suspeito, por causa da Kombi, mas o som dos disparos é muito claro. Esse vídeo é um “clássico”, escreve Sousa.

Os dois vídeos estão postados abaixo.

Entre os mais acessados estão também o Abordagem Policial, Caso de Polícia, Blog da Segurança Pública e Praças da PMERJ.

O soldado e blogueiro Robson Niedson de Medeiros Niedson2 Martins (foto), da Polícia Militar de Goiás, diz que é difícil saber o tamanho da blogosfera policial por causa da constante criação de novos endereços e da extinção de outros. Porém ele estima que de um ano para cá a quantidade de blogs de policiais mais que dobrou.

Técnico em informática, Niedson é um blogueiro entusiasmado – é autor do blog Stive. Foi ele que publicou a informação da punição ao major Wanderby. Informação, diz, que obteve do serviço de inteligência da PM.

O blog Stive (nome que no jargão policial significa parceiro da segurança pública) foi criado há cinco meses.

“No Stive, mantenho um condomínio de blogs policiais convidados, para os quais dou suporte gratuitamente”, afirma Niedson, com quem mantive contato por e-mail. Por enquanto, há dez blogs cadastrados no Stive.

A blogosfera policial é tão diversificada quanto qualquer outra. Os blogs são opinativos (geralmente de crítica às condições de trabalho e à política de segurança pública), informativos, de entretenimento, científicos, biográficos e alguns misturam um pouco de tudo isso.

A maioria dos blogs é de policiais militares. A explicação de Niedson é de que o contingente da Polícia Civil é bem menor em relação ao da Polícia Militar. Ele informa que em São Paulo há um policial civil, o Roger, que é blogueiro. Mas Roger não assina seus posts, que se apresentam mais como exercícios literários.

Alguns blogs têm nomes sugestivos, como Blog da Insegurança, Campo de Batalha Terrestre, Cordel de Bola de Fogo, Flit Paralisante, Esposa de Praça de Praça da PM, O Alvo da Chibata e Um Conto de Fardas. Poucos deles são atualizados diariamente.

O difícil, nos blogs do Rio, é encontrar um elogio ao governador Sérgio Cabral (PMDB) e muito menos ao secretário de Segurança José Mariano Beltrame.

As críticas não se refere só ao governo, mas também à população por supostamente não dar o devido valor aos policiais militares, que ganham mal, embora arrisquem a vida todos os dias.

Sílvia Alves, casada com um cabo e blogueira do Esposa de Praça da PM, escreve que está “cansada das injustiças, do descaso e do ódio popular cometidos contras os nossos PPMM, em particular o meu!” Ela diz que, mesmo assim, seu marido tem orgulho de ser policial.

Nem por isso Sílvia deixa de se comover com a dor do taxista cujo filho de três anos foi morto recentemente pela imprudência de um PM do Rio.

Mas, de uma maneira geral, pouco se questiona a violência policial que, de fato, assusta a população, principalmente a do Rio. Essa truculência é sempre colocada na perspectiva de que é conseqüência dos baixos salários e da falta de treinamento e de equipamentos.

Niedson afirma que existem a blogosfera policiais que defendem os direitos humanos e me deu um exemplo. Fui conferir, mas não me convenci. Trata-se de policial que foi da Rota, corporação de São Paulo que inspira terror entre marginais, mas também entre a população da periferia mais pobre da cidade.  

Entre os blogs policiais, há um com o nome de Liberdade de Expressão, de um soldado do Piauí que não revela o seu nome. “Estamos numa democracia. Vamos Exercer o nosso direto à Liberdade de Expressão”, escreve.

Pelo regulamento, o policial militar não pode criticar a instituição nem a hierarquia, ainda mais em público, na internet.

Como se ter então a liberdade de expressão? Recorrendo ao anonimato, como faz o soldado do Piauí e outros.

Niedson afirma que o policial que “não mede o que diz” corre o risco de ser inquirido por abusos administrativos.

Mesmo assim, blogosfera policial brasileira tende a se manter em expansão.

 

ATUALIZAÇÃO

A propósito da punição ao major Wanderby, escreveu o tenente Alexandre de Sousa:

"Talvez um dos maiores empecilhos para o surgimento de novos blogs mantidos por policiais, principalmente os militares, seja o nosso regulamento disciplinar e o medo de ser punido.

O regulamento disciplinar da Polícia Militar do Rio de Janeiro (e de vários outros estados) é bem claro quando diz, em seu item 101, que é transgressão disciplinar: “Discutir, ou provocar discussões, por qualquer veículo de comunicação, sobre assuntos políticos, militares ou Policiais Militares, excetuando-se os de natureza exclusivamente técnica, quando devidamente autorizados.”

Ou seja, todos nós, blogueiros policiais militares, somos transgressores da disciplina e estamos sujeitos a sanções. Mas ué? A Constituição Federal, a nossa lei maior, acima de todas as outras, não garante a liberdade de expressão? Sim, está lá no artigo 5º:

“IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”.

 

> Delegado do caso Dantas agora tem um blog. 

 

Comentários

Anônimo disse…
Muito obrigado pela citação do Abordagem Policial, e por perceber o potencial que as opiniões dos policiais têm para confrontar-se com as falácias de falsos especialistas...
Anônimo disse…
No dia 29 de agosto de 1993,na praça Catolé do Rocha.assassinaram 4 Policiais Militares passaram se sete dias assassinaram mais 4 Policiais Civis.engraçado né.ninguem se preocupou com os assassinos já esta quaze prescrevendo e ninguem toma atitude só se preocuparam em prender Policiais Militares.i a Familia desses policiais (COMO FICA ISSO)
Anônimo disse…
linkado ficou bem melhor.
Anônimo disse…
Fiquei feliz de você ter mencionado nosso pequeno blog de praças de polícia.

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