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Jornalista defende Ziraldo e Jaguar no caso da bolsa-ditadura

“Então eles não estavam fazendo uma
rebelião, mas um investimento”. (Millôr)

Sérgio Augusto é um jornalista sério, mas deu derrapada feia em seu artigo de hoje no Estadão, no caderno Aliás.

Ele forçou a barra ao conectar entre si dois assuntos distintos: o caso Isabella e a concessão de indenização milionária da bolsa-ditadura aos humoristas Jaguar e Ziraldo.

Augusto começa por lembrar a origem da palavra linchamento. Cita ao americano William Lynch (1742-1820), um capitão que seria o padroeiro do justiçamento sumário. Há controvérsia. Há quem atribua a Charles Lynch a origem da palavra linchamento. Coronel na guerra de independência dos Estados Unidos, esse Lynch também incentivava esse tipo de violência. Mas não importa quem tenha sido. Sigo em frente.

Sérgio Augusto destaca que, no caso Isabella, tem havido uma tentativa de linchamento do pai e da madrasta da menina -- tem gente querendo fazer justiça com as próprias mãos, apedrejá-los, o que é verdade. Na internet, nos blogs principalmente, o casal já foi condenado.

O jornalista escorregou ao afirmar que Jaguar e Ziraldo também passam por um linchamento da opinião pública por conta da indenização de R$ 1 milhão (para cada um deles), além de pensão mensal, que vão receber na condição de perseguidos pela ditadura militar, na época em que editavam o Pasquim.

Peraí, nesse caso não está havendo linchamento nenhum!

O que tem havido é a indignação legítima de pessoas que consideram um absurdo o valor dessas e de outras indenizações da bolsa-ditadura. Afinal, o dinheiro dos cofres públicos é curto para atender uma população com imensas carências e tem de ser utilizado com rigor. Sérgio Augusto, Jaguar e Ziraldo sabem bem disso.

O jornalista anota que o pai e a madrasta Isabella estão sendo acossados por uma turba, uma multidão covarde, porque composta de anônimos, como é característico dos linchamentos.

Mas – observo -- o mesmo não se dá em relação à indenização milionária aos dois humoristas (que agora, de repente, perderam a graça).

Quem faz a crítica, nesse caso, não é uma turba enfurecida, mas pessoas bem informadas, com nomes conhecidos e RG, que têm aderido a abaixo-assinado. Há entre elas gente que também foi perseguida pelos militares, como o humorista Millôr Fernandes, outro fundador do Pasquim.

De Millôr, aliás, partiu a crítica mais ácida contra seus colegas: “Então eles não estavam fazendo uma rebelião, mas um investimento”.

Por fim, em seu artigo, Sérgio Augusto acaba por admitir que as “quantias [das indenizações] são de fato elevadas e nada equânimes”. E acrescenta que, se fosse o Jaguar e Ziraldo, doaria os milhões a uma instituição de caridade.

Pois fica aí uma sugestão aos dois humoristas. Talvez o Sérgio Augusto, que é amigo do peito dos dois, possa convencê-los. E a doação, em vez de ser feita à caridade, poderia beneficiar as famílias dos camponeses da região do Araguaia que foram torturados e mortos ou tiveram a lavoura destruída e as casas queimadas por estarem ajudando os guerrilheiros – em muitos casos não houve colaboração alguma, só suspeita da parte dos militares. Na Folha deste domingo, um camponês conta que os soldados do Exército o deixavam amarrado dias em um tronco.

Não me parece que Sérgio, Jaguar e Ziraldo estejam preocupados com essa gente.

> Tempo de arremessar pedras. (Sérgio Augusto, no Estadão)

> Jaguar e Ziraldo também se beneficiam com a bolsa-ditadura.

> Abaixo-assinado repudia indenização milionárias a cartunistas.

> Lavrador diz ter visto o enterro de 12 guerrilheiros do Araguaia. (Folha)

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